Corria
o Baio do Maneco
Com
o tordilho do Gaveston,
Numa
cancha reta, na coxilha pelada.
Era
uma diversão para a gauchada
num
dia de sol claro do mês de setembro
Chegava
gente a pé, de carreta de bois
Charrete
e a maioria a cavalo,
Também
veio gente da cidade
Em
dois ou três automóveis.
Era
um evento dos mais importantes
Que
acontecia de quando em quando
Promovido
por carreiristas daqueles pagos,
Lembro-me
do povo chegando de todos os lados
E
começava a se formar aquela festança.
Ao
meio dia era grande aglomeração,
De
viventes em volta da cancha, “já se vieram”!
O
cavalo do Zico perdeu porque se abriu,
O
Dórico desatou a carreira, pagou o depósito.
Um
sujeito dava luz e doble,
Outro
gritava sem reserva,
Gente
que cantava de galo
muitos
apostando nos cavalos
Cinco,dez
pila e até dinheiro graúdo,
A
gurizada jogava troco miúdo.
Na
barraca do Marcelino grande freguesia,
Tomando
trago, comendo pastéis,
Contando
lorotas, sobre seus parelheiros,
Atando
carreiras para serem corridas lá na cancha.
Um
fogo sobre uma vala queimando uma lenha,
cheio
de espetos cravados com carne,
era
aquela ladainha, sem mais nem menos
começava
um arranca toco e já chegavam os deixa disso.
lá
pelas quatro horas da tarde começou uma briga
Porque
o cavalo do Juca tigre perdeu uma carreira
Que
correra com a égua do Tomazette.
Falaram
que o juiz roubou, que na verdade
O
cavalo do Juca tinha ganhado de cabeçada de freio.
Esse
tal de Tomazette era um fazedor de pendenga
Talvez
fosse o motivo do juiz se acovardar
E
acabar roubando a favor do arruaceiro.
Começaram
a discutir e a coisa foi ficando feia
Sabia-se
que não tardava uma grande peleia
O
Tigre usava um três listras atravessado nas costas
E
o Tomazette dois trinta e oito niquelado, na cintura
Ficaram
ali os dois se toreando e o Juca Tigre falou
Que
não iria ficar de graça, mas seguiu a festança.
Na
saída do carreiramento no finalzito da tarde
Onde
tinha uma porteira feita de arame
Aberta
bem pra traz, tava o Juca escorado
em
um moerão da estronca esperando o Tomazette.
não
demorou muito vinha o arruaceiro
chegou
e boleou a perna já de revolver na mão
e
o Juca Tigre arrancou aquele baita facão
como
um touro bravo em direção ao Tomazette
que
não pensou duas vezes e sapecou fogo
mas
infelizmente pegou o tiro no Zezinho
um
jóquei corredor de carreiras
que
tentava apartar aquela briga.
Os
automóveis já tinham deixado o local
Mas
a ambulância logo em seguida chegou
Era
uma charrete modelo aranha
Puxada
por um tordilho muito troteador
Mas
até chegar onde estava o doutor
Eram
muitas léguas de estrada afora.
Esta
peleia aconteceu quando eu era guri
Foi
gravado em minha memória
que
até hoje eu não me esqueci.
FERNANDO
ALMEIDA POETA