quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Mês de Agosto na Estância
Dos doze meses do ano
Ele é o mês mais caborteiro!
Quando lembro o mês de agosto
Chega me arrepiar o pelo.
Pra quem vive nos pampas
Sabe que ele é rigoroso,
Ajoujado com o minuano
Ainda fica mais tenebroso.
Depois de muitas geadas grandes,
Entordilhando coxilhas e banhados,
Todo o rebanho da estância,
Estão com o pelo virado.
Ele vai se chegando no mas
Com seu jeitito traiçoeiro,
Vento norte amornando aurora
E as vacas parindo os terneiros.
Parece que o inverno acabou
E vai começando a brotação,
O pessegueiro a laranjeira floresce
No finalzinho desta estação.
Até o touro dá uns berros no rodeio,
Adivinhando a primavera,
A saracura grita no banhado,
O sabiá cantando lá na tapera.
De repente pro lado dos castelhanos
Vai se erguendo um paredão,
Começa, trovejando longe...
E vai se chegando a escuridão.
Todos com medo da tormenta
O patrão, a patroa e a peonada,
Cada um procura um abrigo,
Alvorotando-se a bicharada.
A vaca berra, o bagual relincha
E a ovelha chama o cordeiro.
Uma douradilha roncadeira
Escaramuça na volta do potreiro.
Uma galinha reúne seus pintos,
Outras vão se chegando ao poleiro.
O galo velho todo desconfiado
Tranqueia por todo o terreiro.
Primeiro um momento de silêncio...
Em seguida começa uma barulhada,
Caindo pingos de fazer bolhas,
É sinal de muita chuvarada.
Sei que o estrondo é da natureza,
Mas, mesmo assim, ainda dá medo,
Um raio cai partindo ao meio,
Um angico, lá do arvoredo.
Amanhece o dia e vem a noite
E se vai sempre chovendo.
A enchente vai ser mui grande,
O conhecimento está prevendo.
E assim segue até por uma semana,
Vai ficando tudo encharcado,
A lenha está toda molhada
E o galpão todo enfumaçado.
A peonada vai ficando inquieta,
Por que não para esta chuva fria.
Apareceram goteiras no galpão
E um guaxo fazendo estripulia.
O guasqueiro trançando cardas,
Outro ajuda a lonquear o couro.
E aqueles que vão pro bulicho
Jogar ou campear namoro.
O Capataz desaba o chapéu
E conversa com a peonada,
-Vamos vestir os ponchos
E recorrer às invernadas.
Juvêncio encilha o rosilho!
Mas, tenha muito cuidado,
Ele pode renegar os bastos
Por estar com o lombo molhado.
Um recorre às sangas,
Outro costeia o mato.
Apartar os mais fracos
E recolher para o trato.
Um tem que courear a brasina
Que morreu lá no capão
E trazer o terneiro dela
Para dar bóia no galpão.
O campeiro tem que cuidar
Das vacas magras e dos terneiros,
O temporal está judiando
O nascimento dos cordeiros.
Os graxains andam na volta,
Negaceando pra dar uma pegada,
É carancho, também urubu,
Lá em cima, fazendo revoadas.
De repente num final de tarde
A chuva até da uma parada.
A perdiz assovia perto das casas
E o perdigão, no fundo da invernada.
Dá um silêncio meio esquisito
E o sol até dá uma espiada,
Escutei uma vaca tossindo
E a saparia numa cantiga entoada.
Noutro dia amanheceu deitando água,
O banhado era um lençol gigante,
Parecia que o mundo viria abaixo
Para quem via aquele semblante.
E o tempo cada vez mais feio,
Choveu mais uns quatro dias.
Chegava a dar uma tristeza
Sempre quando anoitecia.
Mas, como tudo tem começo e fim,
Levantou-se um vento minuano,
Dando sinal de tempo bom
Do mesmo lado dos castelhanos,
Junto com uma garoa galopeada,
Daquelas de arrepiar o sabugo,
Também de matar cavalo velho,
Mas, nada disso eu refugo.
Pois o destino de um peão
É saltar ao romper da aurora,
Com chuva, frio ou calor,
Nunca se maneia nas esporas.
Se correr o bicho te pega
Se parar o bicho te agarra,
E ainda desmancho uma milonga
Nas cordas da minha guitarra.
O inverno sempre é rigoroso,
Mas de vagarito vai se entregando.
O sol brilha refletindo na enchente
E aos pouquitos vai se chegando.
A terra começa a ser lavrada
Para semear toda a semente,
É o trabalho de nossos colonos
Para sustentar nossa gente.
Uma calmaria paira no horizonte,
Após a tempestade, vem a bonança.
Sobre as coxilhas pampianas
Brota os campos e nossa esperança.
Berra o gado, canta os pássaros.
E nosso céu fica mais azul,
É a primavera que está chegando
Aqui nestes pagos do sul.
Fernando Almeida Poeta
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