segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Velha Tapera


Um angico velho centenário
também um pé de cinamomo
foram testemunha do meu sono
em longas tardes de verão.
Serviram de aconchego a este peão
resquícios causadores de saudade
para quem hoje vive na cidade
longe do seu amado rincão.

Tu, saudosa velha tapera,
minha querência nativa,
levando uma vida primitiva
no rancho de meu nascimento.
Hoje a vejo só em pensamento
acordava durante as madrugadas,
com réstias de lua prateada
nas frestas que se via lá dentro.

De pau-a-pique de branquilho
com cipó todo amarrado,
o barro com milhã era sovado
a patas de cavalo na volta da eira.
Desde a quincha até a beira
toda coberta de capim,
o estilo de campanha era assim
onde o luxo era besteira.

Ver as coxilhas, o açude 
e o manto verde do gramado,
em baixo da laranjeira, meu arado
sem ponta só a bolcadeira.
Os cabos feitos de madeira
deteriorados pelo tempo.
Nada resiste ao relento
só a saudade caborteira. 

Ainda resta o picador de lenha,
tronco de madeira de lei,
ali muita lenha eu cortei
para o fogão formar o braseiro,
cozinhar feijão e arroz de carreteiro.
Assar um bolo na panela
batido numa pequena gamela
para a sustância deste peão campeiro.

Chegando lá vejo as ruínas
da mangueira feita de varejão,
o palanque está no chão
onde costeava as tambeiras
para fazer vacas leiteiras.
Sob a sombra das taquaras,
a porteira fechada com varas
só resta uma das tronqueiras.

Minha bergamoteira preferida
há muito tempo está morta,
os canteiros da velha horta
onde imperava o cultivo a capricho,
hoje só inço, guanxuma e carrapicho.
Por lá está tudo abandonado,
ainda sinto o cheiro do passado
chorando a saudade do cambicho.

Formando um rumor sonoro,
o vento embalando o arvoredo,
outrora até me dava medo.
Vinha do lado dos castelhanos
uma tormenta redemoinhando
com um jeito de tornado,
benzia-se com um machado,
e logo ia se espalhando.    

Às vezes eu volto por lá,
recordo meus tempos de guri.
Querência, nunca esquecerei de ti.
Não vejo mais o gado pastando
só trator a terra lavrando.
E ainda bebo água da fonte
e fico olhando para o horizonte
parece que estou sonhando.


Fernando Almeida Poeta