Meu canto é como bagual
saindo porteira afora,
amadrinhado pelas esporas
num pelado de uma coxilha.
Sempre seguindo a trilha
de um caudilho forasteiro,
pois carrego pra sinuelo
o instinto farroupilha.
Minha voz é como o vento
numa manhã serena,
timbre de noite morena
ao despontar da lua.
Do sussurro da chirua
de onde a inspiração brota,
pois meu verso galopa
na imensidão nua e crua.
Sou assim abagualado
como potro que corcoveia,
que se livrou da maneia
e sai rasgando horizonte.
Bebi água da mesma fonte
onde bebeu o índio Sepé,
vim das bandas do Caiboaté
sou estouro
de tropa ao reponte.
Quando abro meu peito
canto coisas da querência,
com mescla de pura essência
campo afora minha voz expande.
Não precisa que me mande
o que faço é por instinto,
no fundo da alma eu sinto
uma paixão pelo Rio Grande.
Meu canto é assovio do vento
na quincha de uma tapera,
numa noite de primavera
o calor que vem do norte,
anunciando chuva forte,
enchente e temporal.
Com som de vendaval
Santa Clara que me dê sorte.
Meu canto é rio que corre
murmurando mata adentro,
parece que tem sentimento
água pura e cristalina.
É a natureza divina
na cascata do paredão,
corcoveia meu coração,
por natureza, canto e china
Meu cantar
é primitivo,
ritmo de
trote chasqueiro,
som de
gaita e pandeiro
e tilintar
das esporas.
Tristeza se
manda embora
levando as
mágoas do peito,
porque ando
deste jeito
bem pachola
Rio Grande afora.
Canto que
nem quero-quero
o bombeador
das coxilhas,
fazendo éco
nas flechilhas
sou
herdeiro do passado,
canto
sempre entoado
com o som
da natureza.
Canto toda
a beleza
que ganhei
como legado.
Quando eu
partir desta terra
levarei
junto comigo,
este meu
violão amigo,
que eu
guardo com carinho,
parceiro
quando estou sozinho,
sob o oitão
do rancho
uma milonga
eu desmancho,
pra minha china com carinho.
Fernando Almeida Poeta